POR TRÁS DAS LENTES: DONJUANA #25

"Sabendo que mulheres continuam sendo uma minoria significativa nessas cadeiras, expressar-me visualmente e contar histórias hoje é uma forma de reivindicar esse espaço."

12/1/20253 min read

A'CRON: Quando e como foi a primeira vez que você usou uma câmera como forma de expressar?

DONJUANA: É interessante, pois a primeira vez que usei uma câmera de fato foi como um instrumento, não como o ponto de partida da minha expressão. Meu percurso criativo, na verdade, foi uma longa busca pelo que eu queria de fato. É fundamental mencionar que essa jornada, iniciada por volta de 2018 com o design, foi construída de forma autodidata. Eu nunca tive o caminho formal na época, construindo meu conhecimento e minhas técnicas através da vivência e do aprendizado direto com outros profissionais.

Hoje, eu curso a faculdade para aprimorar ainda mais meu lado técnico, mas a base de tudo foi a curiosidade e o Youtube rsrs. Comecei na música, depois explorei o design gráfico e, em seguida, a fotografia. Em cada uma dessas áreas, eu sentia que me aproximava de um elemento da narrativa, mas havia sempre algo faltando... a dimensão do tempo, do movimento, da linearidade de uma história completa.

A primeira vez que senti que estava me expressando de forma plena foi quando entendi que o audiovisual era a soma de tudo isso. O cinema sempre foi uma paixão, mas eu precisava percorrer esse caminho de experimentação em outras mídias para finalmente entender que o audiovisual era o único formato capaz de dar forma completa à minha visão e à maneira como eu queria contar histórias.

Foi um processo de descoberta, não um evento isolado. E, claro, essa jornada no audiovisual veio com um peso e uma responsabilidade adicionais: a dificuldade de me inserir e de se estabelecer como mulher em funções criativas, como a Direção Criativa e, especialmente, na Montagem/Edição.

Sabendo que mulheres continuam sendo uma minoria significativa nessas cadeiras, expressar-me visualmente e contar histórias hoje é uma forma de reivindicar esse espaço, garantir que novas perspectivas cheguem à tela e inspirar outras mulheres a ocuparem esses lugares fundamentais no meio audiovisual.

A'CRON: Como você enxerga o poder da imagem no audiovisual?

DONJUANA: Eu enxergo o poder da imagem não como um elemento isolado, mas como o primeiro ponto de contato de uma narrativa. A imagem tem a capacidade instantânea de criar uma atmosfera ou despertar uma emoção, superando barreiras de idioma ou a necessidade imediata de palavras. É o que atrai o espectador.

No entanto, o verdadeiro poder do audiovisual reside na narrativa. Como diretora criativa e também atuando na montagem, eu vejo claramente que uma imagem incrível sem um arco narrativo coeso é apenas estética, e tudo bem também. O audiovisual se torna poderoso quando é a junção perfeita de imagem, som e texto, todos a serviço de uma história que precisa ser contada.

Para mim, o poder de verdade está na conexão. É a narrativa que nos permite informar, gerar conhecimento e, principalmente, gerar empatia... a possibilidade de contar uma história que pode ressoar tão profundamente a ponto de, potencialmente, mudar a perspectiva ou a vida de quem assiste. Pra mim, o audiovisual é a plataforma mais completa que temos hoje para realizar essa transformação.

A'CRON: Como você enxerga o poder da imagem no audiovisual?

DONJUANA: Vivemos em uma era de saturação visual, onde somos bombardeados por referências e estéticas em todas as redes sociais. Encontrar uma voz própria é um desafio constante. Por muito tempo, eu me preocupei em agradar ou me encaixar em tendências.

Hoje, eu entendi que meu trabalho é, antes de tudo, real e proposital. Meu foco principal, seja em um videoclipe ou em um curta-metragem, é a narrativa e o impacto no espectador. Meu processo se resume a contar histórias, e especialmente as de pessoas reais, não apenas da minha perspectiva, mas colocando o personagem em seu contexto.

Assumo meu trabalho como um ato de expressão pessoal. Eu preciso fazer o que faz sentido para mim. Eu dirijo e monto aquilo em que acredito. Em essência, meu trabalho é filtrar o excesso de ruído visual contemporâneo para entregar histórias que sejam verdadeiras, que se conectem e que, por consequência, gerem algum impacto.

O resto, a aceitação do público, é consequência da minha autenticidade criativa.